Os ursos do par euro-dólar testaram o nível de suporte de 1,0710 (linha inferior das Bandas de Bollinger no intervalo de tempo D1) ontem, mas não conseguiram superar esse alvo. Os vendedores claramente pretendiam atingir a área de 1,06, mas o ímpulso de baixa diminuiu. Após outro comentário otimista do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (afirmando que o calote não é uma ameaça para os Estados Unidos), a atenção do mercado se voltou para o índice PCE principal, que será publicado no início da sessão de negociação dos Estados Unidos na sexta-feira.
No geral, a situação com o par ainda está incerta. Apesar das declarações otimistas da Casa Branca, a situação continua sem solução: republicanos e democratas ainda não chegaram a um acordo, apesar de faltar menos de uma semana para o prazo anunciado pelo Tesouro. Portanto, é muito cedo para falar em posições longas no par EUR/USD. No entanto, ignorar os fatores fundamentais clássicos não é aconselhável, especialmente porque um importante indicador de inflação será publicado hoje.
Negociações estagnadas
Vamos começar com a questão das negociações. É importante observar que o Congresso dos Estados Unidos rotineiramente eleva o teto da dívida sem problemas significativos ano após ano - geralmente é um procedimento tranquilo e não politicamente sensacionalista. Mas nem sempre. Por exemplo, em 2011, o impasse entre o presidente Barack Obama, o Senado Democrata e os Republicanos na Câmara dos Representantes durou até o último momento. A ameaça de calote era tão real aos olhos dos participantes do mercado que o pânico se apoderou dos traders. A agência de classificação de risco Standard & Poor's tomou uma decisão sem precedentes na época, rebaixando os ratings de crédito de longo prazo dos Estados Unidos do nível máximo de "AAA" para "AA+". Uma situação semelhante ocorreu em 2013 (embora os ratings de crédito dos Estados Unidos não tenham sido revisados naquela época), e uma situação semelhante está se desenrolando novamente após 10 anos.
Isso quer dizer que essas crises não são uma tradição anual, mas sim uma situação excepcional. Considerando as próximas eleições presidenciais em 2024 e a presença de "radicais" no partido Republicano (que defendem a falta de compromisso e são favoráveis ao calote), a preocupação dos participantes do mercado é compreensível. As declarações otimistas de Biden e dos negociadores têm impacto limitado, pois a situação está se desenrolando de acordo com o pior cenário possível. Por exemplo, ontem, a agência de classificação de risco Fitch Ratings colocou o rating de crédito dos Estados Unidos em "observação negativa". Essa decisão já foi comentada na Casa Branca, afirmando que as conclusões da Fitch "demonstraram a necessidade urgente de uma solução rápida para o problema".
Em outras palavras, o rating de crédito dos Estados Unidos está ameaçado pela primeira vez em 12 anos, e há menos de uma semana até a data limite condicional (1º de junho). Ao mesmo tempo, os grupos de negociação ainda estão longe de chegar a um acordo. Esse contexto fundamental não contribui para o movimento de alta do EUR/USD.
Sem dúvida, o cenário mais provável ainda é chegar a um acordo bipartidário entre Biden e McCarthy, resultando em uma rápida aprovação pelo Congresso de um projeto de aumento do teto da dívida. Supõe-se que o acordo alcançado envolverá cortes de gastos - mais do que o proposto pela Casa Branca, mas menos do que os republicanos oferecem.
A única questão é quando o acordo será alcançado, considerando que restam apenas alguns dias até a "hora zero". Não há dúvida de que, até o final da saga de negociações, o par EUR/USD permanecerá sob pressão devido ao aumento da demanda pelo dólar como refúgio seguro.
Diante dessas circunstâncias, é necessário exercer grande cautela na interpretação dos dados de inflação divulgados hoje, ou melhor dizendo, na reação a esses dados.
Núcleo do PCE
Estamos falando do índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) nos Estados Unidos. Como é sabido, esse indicador de inflação é monitorado de perto pelo Federal Reserve com atenção especial, por isso recebe uma atenção aumentada por parte do mercado.
Lembramos que no mês passado, esse indicador caiu para 4,6% em base anual, abaixo da queda projetada de 4,5%. O relatório trouxe suporte para o dólar, embora, no geral, mais uma vez refletisse uma queda no indicador. De setembro a dezembro do ano passado, o índice diminuiu consistentemente de 5,2% para 4,6%. Em seguida, em janeiro e fevereiro, o indicador atingiu um nível de 4,7% e, em março, retornou ao nível de dezembro, 4,6%.
De acordo com previsões preliminares, em abril, espera-se que o índice PCE básico atinja 4,5% em relação ao ano anterior, demonstrando uma diminuição mínima. Se o relatório cair na "zona vermelha", o dólar pode enfraquecer temporariamente no mercado e, consequentemente, o par EUR/USD pode subir em direção ao nível de 1,08. No entanto, devo reiterar que esses movimentos de preço devem ser abordados com cautela, uma vez que os fatores fundamentais "clássicos" atualmente têm influência limitada nos pares com o dólar.
Ao mesmo tempo, assim que os formuladores de políticas americanos chegarem a um compromisso, o foco se deslocará novamente para a inflação e as perspectivas de aumento da taxa de juros do Federal Reserve. A imagem fundamental para o par EUR/USD mudará drasticamente nesse caso e, por muitos indicadores, não em favor do dólar. Portanto, no momento, é aconselhável adotar uma posição de esperar para ver para o par.
