O par USD/JPY deverá cair à medida que o dólar enfrenta ventos contrários. A alta de vários dias do dólar americano em relação ao iene perdeu força. O par fechou sua segunda sessão consecutiva no vermelho, despencando profundamente ontem. Vamos discutir por que o par caiu tão bruscamente e o que está por vir.
O iene está em destaque
Na semana passada, o dólar americano disparou contra seus principais concorrentes, atingindo novas máximas. O principal impulsionador para o dólar foi o crescente risco de um calote nos EUA e uma recessão global.
No entanto, em relação ao iene, o USD teve um impulsionador completamente diferente, que é a divergência nas políticas monetárias dos EUA e do Japão. Os investidores agora esperam que essa divergência se aprofunde no futuro próximo.
As recentes declarações dos membros do Federal Reserve indicam que a luta contra a inflação persistente continua sendo uma prioridade para o banco central dos EUA. Portanto, alguns formuladores de políticas não descartam outra rodada de aperto monetário.
Os últimos dados macroeconômicos dos EUA, que se mostraram mais fortes do que o previsto, também aumentaram a confiança do mercado na postura mais agressiva do Fed.
Ao mesmo tempo, muitos traders estão confiantes de que o Banco do Japão continuará a aderir à sua política atual e não esperam grandes mudanças em sua reunião de junho.
As preocupações de que a diferença nas taxas de juros entre o Japão e os Estados Unidos, que atualmente está em 5,35%, possa aumentar ainda mais, exercem uma pressão significativa sobre o iene.
Na segunda-feira, 29 de maio, o JPY caiu em relação à moeda americana para uma nova mínima de seis meses de 140,93.
A queda acentuada do iene se tornou o tema central de discussão na reunião de emergência de ontem do Banco do Japão, do Ministério das Finanças e da Agência de Serviços Financeiros.
O principal diplomata de moeda do Japão, Masato Kanda, afirmou que os funcionários irão monitorar de perto a dinâmica do mercado de câmbio e responder de acordo, se necessário.
O aviso de uma possível intervenção por parte das autoridades japonesas teve um impacto imediato. Após as palavras de Kanda, o par USD/JPY subiu vertiginosamente.
No final das negociações de ontem, o par dólar/iene caiu mais de 0,4% e fechou em 139,85.
Muitos analistas acreditam que as autoridades japonesas agiram preventivamente e citam o nível 150 como uma possível linha vermelha.
"O governo japonês entende muito bem que as divergências nas previsões com relação à futura política monetária do BOJ e do Federal Reserve continuarão a elevar o par USD/JPY. É por isso que eles decidiram exercer pressão sobre os especuladores de moeda agora para evitar uma maior desvalorização do iene", observou o analista Bart Wakabayashi.
De acordo com o especialista, é possível que vejamos uma repetição do cenário do ano passado em um futuro próximo. Quando as preocupações com a intervenção arrefecerem, os carry traders voltarão a apostar no fortalecimento do dólar em relação à moeda japonesa, o que provavelmente provocará outro aviso das autoridades japonesas.
Os analistas preveem que, nas próximas duas semanas que antecedem as reuniões do FOMC e do BOJ, a dinâmica do par USD/JPY se assemelhará a uma trajetória circular.
Perspectivas para o par dólar/iene
A curto prazo, o risco de um calote e de uma recessão global continuará sendo o principal fator determinante para a moeda americana.
Os investidores acompanharão de perto o progresso nas negociações sobre o teto da dívida dos EUA. Se o Congresso dos EUA aprovar um acordo nos próximos dias que possa salvar os Estados Unidos da falência e o mundo de uma crise econômica, isso prejudicará a posição do dólar como ativo porto-seguro.
Entretanto, um retorno ao sentimento de risco não é o único obstáculo que o dólar está enfrentando. A maior ameaça ao par USD/JPY vem dos próximos lançamentos de dados sobre o emprego nos EUA.
O primeiro conjunto de estatísticas será publicado hoje. Espera-se que o relatório de Oferta de Emprego JOLTS do Departamento do Trabalho dos EUA mostre um declínio no número de vagas (de 9,59 milhões para 9,37 milhões).
A seguir, a atenção dos traders se voltará para os dados da ADP, que serão divulgados amanhã, e para o relatório de folhas de pagamento não agrícolas (NFP) na sexta-feira, que é considerado o principal indicador macroeconômico do emprego nos EUA fora do setor agrícola.
Em ambos os casos, os economistas têm uma perspectiva altamente pessimista. As previsões indicam que em maio a economia dos EUA adicionou menos empregos do que no mês anterior.
Se os traders realmente identificarem sinais de desaceleração no mercado de trabalho dos EUA em meio a um aperto contínuo, isso poderá prejudicar muito no seu sentimento hawkish.
Nesse caso, o cenário mais conciliador voltará a ser discutido, implicando não apenas uma pausa em junho, mas também possíveis cortes adicionais nas taxas pelo Fed. Isso é um fator desfavorável para o USD.
Outro obstáculo para o dólar americano é a crescente especulação sobre uma possível capitulação do Banco do Japão. Ontem, o governador do BOJ, Kazuo Ueda, mencionou problemas com a inflação no país, o que aumentou as expectativas hawkish em relação à política do banco central japonês.
Nesta semana, ressurgiram discussões sobre um possível ajuste no Controle da Curva de Rendimentos (Yield Curve Control - YCC) na próxima reunião do Banco do Japão. Se essa visão ganhar aceitação mais ampla em breve, isso representará um obstáculo significativo para a recuperação do par USD/JPY.
Do ponto de vista técnico, o par dólar/iene ainda tem uma chance de se recuperar. Isso é indicado pelo Índice de Força Relativa (RSI), que está prestes a sair da zona de sobrecompra.
O primeiro suporte para o par é encontrado no nível de 139,00. Uma quebra abaixo desse nível exporá a alta de 138,74 registrada em 18 de maio. Se esse nível for rompido, abrirá caminho para os baixistas em direção ao nível redondo de 138,00.
Por outro lado, se os compradores recuperarem a área de 140,00, isso poderá marcar o início de uma nova alta. Nesse caso, os touros logo empurrarão a cotação para a máxima anual de 140,93 antes de desafiar o nível de 141,00.