Hoje, foram publicados dados fundamentais sobre o crescimento da inflação no Reino Unido. Em resposta à publicação, o par GBP/USD atingiu uma nova alta diária, mas rapidamente recuou. Os traders estão hesitantes em jogar contra o dólar americano antes do discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que ele fará hoje na Câmara dos Representantes. No entanto, o relatório divulgado voltará a ter impacto em breve, nas próximas 24 horas. Amanhã, 22 de junho, o Banco da Inglaterra realizará sua reunião regular e, com base nas expectativas, é provável que o banco central aumente as taxas de juros em 25 pontos base. Além disso, considerando a dinâmica da inflação subjacente, o regulador pode não apenas aumentar as taxas, mas também anunciar mais medidas nesse sentido.
Quase todos os componentes do relatório saíram na "zona verde", superando as estimativas previstas. A reação do GBP/USD foi mista, principalmente devido à renovada força do índice do dólar americano. O dólar oscila entre se fortalecer e aliviar a pressão sobre o par, aguardando os comentários de Powell. No entanto, no geral, o relatório de hoje fortaleceu as posições da moeda britânica, aumentando a probabilidade de que o Banco da Inglaterra não freie neste mês e, em vez disso, acelere.
A inflação britânica realmente surpreendeu com sua cor verde. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) geral, que são indicadores utilizados para medir a inflação de uma economia, mas com um enfoque específico nas variações de preços dos bens e serviços, excluindo itens voláteis em uma base anual, atingiu 8,7%, enquanto a maioria dos especialistas previa uma queda para 8,4%. Em termos mensais, o IPC geral diminuiu para 0,7%, com uma queda antecipada de 0,5%. De acordo com o Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido, as maiores contribuições para a inflação mensal vieram do aumento dos preços das passagens aéreas, bens e serviços de recreação e cultura, além de carros usados.
No entanto, há uma preocupação particular em relação à inflação-núcleo. O IPC- núcleo, que exclui os preços de alimentos e energia, subiu para 7,1% em maio, enquanto a maioria dos analistas previa uma queda para 6,7%. Isso representa um recorde de vários anos, a taxa de crescimento mais forte do indicador desde 1992. Além disso, o indicador demonstra uma tendência de alta pelo segundo mês consecutivo, contrariando as previsões de queda.
A análise desse componente indica que o crescimento dos preços no setor de serviços acelerou para 7,4% (em relação ao valor anterior de 6,9%), a inflação em bens atingiu 10% (9,7% em abril) e os preços dos combustíveis subiram 13,1% (em comparação com um crescimento de 8,9% no mês anterior).
Os preços no varejo (índice RPI) no último mês subiram 11,3% em termos anuais (em comparação com um crescimento de 11,4% em abril). É importante observar que os empregadores do Reino Unido usam o Índice de Preços ao Varejo (Retail Price Index - RPI) durante as negociações salariais.
O que a publicação indica?
O crescimento da inflação, especialmente o aumento do núcleo da inflação, não permitirá que o Banco da Inglaterra mantenha sua política monetária na forma atual. De acordo com a maioria dos especialistas entrevistados pela Reuters, espera-se que o órgão regulador inglês aumente as taxas de juros em 25 pontos-base em junho, atingindo a maior alta em 15 anos (4,75%).
Vale a pena observar que essa pesquisa foi realizada antes da divulgação de hoje, enquanto suposições mais ousadas foram expressas no mercado após o fato. Em particular, os especialistas do Commerzbank afirmaram que o aumento inesperado da pressão inflacionária aumenta as chances de um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros. Entretanto, em minha opinião, o Banco da Inglaterra manterá um aumento de 25 pontos na taxa, mas reforçará sua retórica, declarando sua postura hawkish.
Afinal, não é apenas o relatório de crescimento do IPC que contribui para fortalecer o sentimento de alta. Os dados do mercado de trabalho publicados recentemente também ficaram na "zona verde", incluindo o indicador pró-inflacionário. O nível médio de ganhos (excluindo os bônus) aumentou 6,5%, superando o crescimento projetado de 6,1%. Com os bônus incluídos, o indicador subiu para 7,2% (contra um crescimento previsto de 6,9%) - a taxa de crescimento mais forte desde julho de 2021.
Os outros componentes da divulgação também superaram as expectativas. Especificamente, a taxa de desemprego diminuiu para 3,8%, contrariando as previsões de aumento, e o número de pedidos de auxílio-desemprego caiu para território negativo (registrando -13.000), desafiando as previsões de um aumento de 22.000.
Conclusões
Os compradores de GBP/USD receberam hoje um trunfo fundamental poderoso. O forte relatório de crescimento da inflação "soltará as mãos" dos membros do Banco da Inglaterra. Não há quase nenhuma dúvida de que o banco central aumentará a taxa de juros em 25 pontos base amanhã. Também é certo que a declaração que o acompanha e o próprio Andrew Bailey adotarão uma retórica mais rigorosa.
Apesar do aumento da inflação britânica, a libra não se beneficiou da situação. Powell é o culpado por isso, já que hoje ele pode fortalecer ou enfraquecer as posições dos otimistas em relação ao dólar. Em antecipação ao seu discurso no Congresso, os traders do GBP/USD se abstiveram de novos movimentos de alta e se apressaram em travar os lucros, amortecendo assim o impulso de alta. No entanto, deve-se abordar a correção de baixa com cautela: se Powell não se tornar um aliado do dólar (o que é altamente provável), a mola pode se desenrolar na direção oposta. Nesse caso, os compradores do par não apenas retornarão à área de 1,28, mas também testarão o nível de resistência em 1,2870 (a linha superior do indicador de bandas de Bollinger no período gráfico D1).
