Após os resultados de duas publicações sobre a inflação, o dólar mais uma vez fez sua presença ser conhecida. Curiosamente, os traders de pares de dólares desconsideraram completamente o relatório sobre o Índice de Preços ao Produtor, cujos componentes entraram na "zona verde". Entretanto, eles reagiram fortemente ao Índice de Preços ao Consumidor, bastante contraditório. Apesar dos sinais conflitantes, os traders interpretaram o relatório a favor da moeda americana.
O par EUR/USD, em particular, atingiu uma baixa de três dias na quinta-feira, caindo de 1,0640 para 1,0526. Um movimento de mais de 100 pips em apenas algumas horas é impressionante (nos padrões atuais). No entanto, não é aconselhável precipitar-se para abrir posições curtas. Os vendedores do par não apenas não conseguiram aumentar seu sucesso, mas também não conseguiram manter suas posições. No início das negociações desta sexta-feira, os compradores retomaram a iniciativa. Isso levanta a questão: a inflação realmente ajudará o dólar a virar a situação a seu favor, ou foi um sucesso temporário e momentâneo? Vamos tentar entender a situação atual.
Vamos começar com as estatísticas. De acordo com os dados publicados ontem, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) geral em setembro permaneceu no nível de agosto, em 3,7% em relação ao ano anterior (com uma previsão de queda para 3,6% em relação ao ano anterior). O indicador vinha caindo nos últimos 12 meses, mas começou a se recuperar novamente em julho e agosto. O núcleo do IPC, excluindo os preços de alimentos e energia, ficou como esperado, em 4,1%. Trata-se de uma baixa de dois anos, a taxa de crescimento mais fraca desde setembro de 2021.
É importante observar que, no final da semana passada, o sentimento hawkish em relação às futuras ações do Federal Reserve enfraqueceu consideravelmente, especialmente no contexto da próxima reunião que ocorrerá no mês que vem. Atualmente, o mercado precifica em apenas 9% a probabilidade de um aumento da taxa em novembro, de acordo com dados da CME FedWatch Tool. Para efeitos de comparação, no início de outubro, as chances de um aumento de 25 pontos na reunião de novembro eram de quase 50%. Quanto à reunião de dezembro, também há um certo nível de ceticismo entre os participantes do mercado. A probabilidade de um aumento da taxa na última reunião do ano diminuiu de 40% para os atuais 30%.
Conforme observamos, os traders parecem estar quase certos de que o Federal Reserve manterá o status quo em novembro, mas ainda mantêm algumas esperanças para a reunião de dezembro. Os relatórios de inflação divulgados esta semana não favoreceram os falcões, a facção mais favorável a políticas restritivas para controlar a inflação. No entanto, é importante fazer uma ressalva crucial: na situação atual, o que realmente importa não são os relatórios em si, mas sim sua interpretação. Em outras palavras, os dados publicados podem influenciar a balança tanto a favor quanto contra o dólar, com o papel principal sendo desempenhado pelos membros do Federal Reserve.
É importante lembrar que, no início de outubro, o dólar fortaleceu consideravelmente sua posição, apesar de um relatório fraco sobre o crescimento do núcleo do índice PCE, que caiu para 3,9%. O dólar recebeu apoio de representantes do Federal Reserve. Em particular, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, observou que o Federal Reserve provavelmente teria que aumentar as taxas de juros novamente este ano, visto que os riscos para a inflação atualmente inclinam-se para cima. A Governadora do Federal Reserve, Michelle Bowman, expressou uma posição semelhante, afirmando que novos aumentos nas taxas de juros e a manutenção dessas taxas por um longo período "serão apropriados".
À luz dessas declarações, o índice do dólar americano atingiu uma alta de quase um ano, atingindo o nível de 107, enquanto o par EUR/USD registrou uma mínima de seis meses, marcando 1,0449.
No entanto, posteriormente, os dados das folhas de pagamento não agrícolas (NFP) foram divulgados, refletindo um crescimento salarial fraco. Após essa divulgação, os representantes do Federal Reserve expressaram declarações mais cautelosas. Vários membros do órgão regulador dos EUA manifestaram dúvidas sobre a conveniência de uma política monetária mais restritiva. Entre eles estavam Mary Daly, Lael Brainard e Philip Jefferson.
Após essas declarações, o equilíbrio do mercado voltou a favorecer os compradores do EUR/USD, uma vez que o dólar enfraqueceu no geral, devido à queda nas expectativas hawkish.
Essas mudanças no sentimento indicam que o mercado está em uma encruzilhada. O Federal Reserve fortaleceu o dólar e depois o enfraqueceu. Agora, o destino da moeda americana está novamente nas mãos do Federal Reserve. Se os membros do Fed demonstrarem preocupação com a dinâmica dos principais indicadores de inflação, o dólar reafirmará sua presença. Entretanto, o mercado pode já ter em grande parte precificado a manutenção do status quo na reunião de novembro. Portanto, se o Federal Reserve sugerir um possível aumento das taxas em dezembro, essa retórica pode favorecer o dólar.
De acordo com os estrategistas cambiais do Danske Bank, as divulgações recentes reacenderam as esperanças de um aperto maior na política do Federal Reserve. Especificamente, eles destacam que, após vários meses de queda, os preços das moradias nos EUA aumentaram inesperadamente. Ao mesmo tempo, a inflação geral mostra resiliência, o que pode preocupar os representantes "neutros" do Federal Reserve.
Em resumo, se o Fed endurecer sua retórica em resposta aos relatórios de inflação, o dólar provavelmente recuperará rapidamente as posições perdidas. Isso significa que, no par EUR/USD, o dólar poderá retornar ao nível de suporte de 1,0450 (a linha inferior das Bandas de Bollinger no período de tempo D1), que demonstrou resistência aos vendedores do EUR/USD no início de outubro. No entanto, não se pode descartar um cenário alternativo em que os membros do Fed mantenham uma postura cautelosa, enfatizando a queda no índice PCE básico e expressando ceticismo sobre a conveniência de políticas monetárias mais restritivas. Nesse caso, o par poderá voltar à faixa de 1,0650-1,0750.
No momento, a situação é incerta, e os traders têm apenas estatísticas secas para se basear; para o desenvolvimento de um cenário de alta ou de baixa, é necessária uma interpretação correspondente do Federal Reserve.
