O ouro não foi a escolha favorita do mercado após a vitória de Donald Trump nas eleições de novembro. De fato, recuou quando a onda vermelha se confirmou e o retorno do republicano à Casa Branca parecia iminente. Muitos investidores acreditavam que a desregulamentação e os cortes de impostos fortaleceriam o dólar e impulsionariam os rendimentos do Tesouro. No entanto, na primavera, ficou claro que o 47º presidente dos EUA representava riscos significativos, o que favoreceu o ouro, tradicional refúgio em tempos de incerteza.
E as turbulências não demoraram a chegar. O anúncio de Trump sobre uma tarifa de 25% para carros estrangeiros pressionou o S&P 500 e reacendeu a demanda por XAU/USD. O Goldman Sachs elevou imediatamente sua projeção para o ouro de US$ 3.100 para US$ 3.300 até o final de 2025, citando fortes fluxos para ETFs e a crescente demanda dos bancos centrais. Desde 2022, em resposta ao congelamento das reservas russas pelo Ocidente, os bancos centrais quintuplicaram suas compras de ouro. Já as participações em ETFs especializados cresceram 154 toneladas desde o início do ano.
Dinâmica das participações em ouro e ETF
Na realidade, o ouro apenas segue as dinâmicas do sistema. Seu fluxo da Europa para os EUA, impulsionado pelas expectativas tarifárias da Casa Branca, levou o déficit comercial a um recorde de US$ 155,6 bilhões em janeiro, sem sinais de melhora em fevereiro. Segundo o Santander US Capital Markets, a balança comercial negativa deve alcançar US$ 162 bilhões. As exportações de ouro da Suíça – um ponto de trânsito essencial entre Europa e EUA – chegaram a 147,4 toneladas em fevereiro, o segundo maior volume mensal já registrado, atrás apenas das 193 toneladas de janeiro.
Como consequência, as exportações líquidas dos EUA estão entrando em território negativo, contribuindo para uma forte desaceleração econômica. As estimativas iniciais do GDPNow, da Fed de Atlanta, indicavam uma contração de 2,8% no PIB do primeiro trimestre. Desde então, foram revisadas para um crescimento modesto de apenas 0,2%, um contraste acentuado com a expansão de 3% vista ao longo de 2024. Isso representa um cenário desfavorável para os mercados – mas positivo para o ouro.
Exportações de ouro da Suíça para os EUA
À medida que os EUA se aproximam da recessão, aumentam os motivos para comprar XAU/USD. Quanto maior o impacto das políticas protecionistas da Casa Branca na economia global, melhor tende a ser o desempenho do ouro. Nesse contexto, o retorno de Donald Trump ao poder – um fator de risco significativo – pode criar um forte impulso para o metal precioso. Quem sabe? Talvez o ouro esteja mirando os US$ 4.000 por onça, como prevê o Société Générale.
Tecnicamente, no gráfico diário, o ouro demonstra uma retomada de sua tendência de alta após um pequeno recuo. A quebra da resistência no nível pivô de US$ 3.045 por onça justificaria a abertura de posições longas, com alvos projetados em US$ 3.105 e US$ 3.135.