Donald Trump fala com confiança sobre o retorno da América à sua Era de Ouro. Em sua visão, chegou o momento de os Estados Unidos prosperarem, em vez de outros países. No entanto, por que o presidente insiste em anunciar suas decisões quando os mercados acionários estão fechados?
Os investidores já perceberam que o líder da Casa Branca não pretende lançar uma tábua de salvação para o S&P 500, embora seja doloroso para ele ver o índice despencar. Os futuros do S&P 500 caíram 4% após o anúncio de uma tarifa de 10% sobre todas as importações dos EUA. E temo que isso seja apenas o começo.
O rali de três dias do S&P 500, antes do chamado "Dia da Libertação da América", refletia a esperança de que as novas tarifas de Trump não fossem tão severas quanto muitos temiam. Além disso, os investidores ainda esperam que o presidente dos EUA deixe espaço para negociações, permitindo uma possível suspensão das medidas. Eventualmente, a incerteza será dissipada, dando margem para que investidores otimistas retomem as compras nas quedas.
A dinâmica e a estrutura do comércio exterior dos EUA
A realidade se mostrou ainda mais dura. A tarifa universal de 10% sobre todas as importações dos EUA é apenas o começo, especialmente quando comparada às tarifas direcionadas aos países da lista dos "quinze sujos" de Scott Bessent. A União Europeia enfrentará uma tarifa de 20%, o Japão, de 24%, e a China, de 34%. Se somarmos esse último valor à tarifa de 20% já anunciada para 2025 e às tarifas vigentes este ano, o total se aproxima de 70%. E como esses países poderiam não retaliar?
A União Europeia já sinalizou que adotará medidas semelhantes caso as negociações com os EUA fracassem. O Japão, por sua vez, exige a remoção imediata das tarifas. No entanto, quanto tempo levará para que o país se alinhe às grandes potências globais? Diferente de 2018–2019, Donald Trump não estará apenas em uma disputa com Pequim. Agora, ele enfrenta praticamente o mundo inteiro — e essa não será uma batalha fácil.
Para o S&P 500, isso significa que a incerteza segue alta quanto às perspectivas da economia americana. O índice de medo VIX disparou acima do nível crítico de 20, os mercados acionários globais estão em queda livre, e os rendimentos dos Treasuries de 10 anos caminham para os 4%. Parece que o mercado está pedindo por uma recessão — ou clamando por uma intervenção do Federal Reserve.
Dinâmica dos rendimentos dos Treasuries dos EUA
O cenário projetado por Donald Trump aponta claramente para um ambiente estagflacionário. Não surpreende que bancos e consultorias, como a Capital Economics, estejam revisando para cima suas previsões de inflação, em média +2,5 pontos percentuais, ao mesmo tempo em que reduzem as projeções para o PIB. Esse contexto é desfavorável para o mercado acionário.
Ainda assim, a resiliência do S&P 500 sugere que o índice ainda não precificou totalmente os riscos de uma desaceleração econômica nos EUA. Caso essa desaceleração se concretize, a onda de vendas poderá se intensificar de forma exponencial.
Tecnicamente, o gráfico diário do S&P 500 ainda sugere a possível formação do padrão de reversão "Fundo Duplo". No entanto, se o índice não conseguir se manter acima de 5.670, ou não retornar a esse nível após um gap de abertura, isso será um sinal de venda, com alvos nos 5.500 e 5.400 pontos. Assim, aproveitar uma alta após o gap para abrir posições vendidas pode ser uma estratégia interessante.