Não crie um problema para outra pessoa — você mesmo pode acabar preso nele. Donald Trump tentou capitalizar a posição de liderança dos Estados Unidos na economia global ao anunciar as tarifas mais altas em mais de um século. Segundo o morador da Casa Branca, a medida levaria os EUA de volta à sua Era de Ouro. No entanto, as reações do mercado financeiro contam outra história: os Estados Unidos estão emergindo como a principal vítima — e o dólar está despencando rumo ao abismo.
Reações dos ativos às tarifas dos EUA
Na virada de 2024 para 2025, os investidores apostavam que a zona do euro e o par EUR/USD seriam os principais alvos das políticas protecionistas de Donald Trump.
A lógica parecia sólida: a zona do euro é orientada para exportações, e o euro, como moeda pró-cíclica, é altamente sensível às perspectivas da economia global. No entanto, teoria sem prática pouco significa. O principal par de moedas subiu para os níveis mais altos desde o início de outubro — e pode estar longe de atingir o teto.
O Citi projeta que o EUR/USD alcance 1,15, citando o impacto desproporcional das tarifas sobre os mercados norte-americanos em comparação aos europeus. Segundo suas estimativas, o S&P 500 pode perder até 11% de sua capitalização de mercado, enquanto os principais índices europeus sofreriam uma retração mais moderada, em torno de 5%.
As tarifas aumentaram significativamente os riscos de recessão nos EUA, derrubaram os rendimentos dos Treasuries e impulsionaram as expectativas de uma política monetária mais branda por parte do Fed. Os mercados de derivativos agora precificam um corte acumulado de 81,5 pontos-base na taxa dos fundos federais até dezembro — o que equivale a três cortes em 2025, com possibilidade de um quarto.
Projeções do mercado de futuros para a flexibilização monetária do Fed
Assim, a saída de capital das ações americanas, a queda nos rendimentos dos Treasuries, o aumento dos riscos de recessão na economia dos EUA e a expectativa de retomada do ciclo de flexibilização monetária por parte do Federal Reserve compõem um cenário extremamente desfavorável para os vendedores do par EUR/USD. A trajetória da moeda dependerá, em grande parte, da forma como a União Europeia responderá às tarifas impostas pela Casa Branca.
A UE parece determinada a contra-atacar, apesar de o secretário do Tesouro, Scott Bessent, ter aconselhado outros países a não retaliar contra as tarifas de importação dos EUA, alertando ainda para a possibilidade de aumentos adicionais nas alíquotas. França e Alemanha têm se mostrado particularmente enfáticas, defendendo medidas específicas contra empresas de tecnologia e prestadores de serviços americanos — um golpe potencialmente significativo, considerando que os EUA mantêm um superávit comercial em serviços com a UE.
Entretanto, há outras opções. A Europa poderia ampliar o estímulo fiscal e incentivar a transição de uma economia voltada para exportações para uma baseada no consumo interno — o que, por sua vez, daria suporte ao euro.
No gráfico diário, o EUR/USD rompeu a consolidação, ou a chamada "prateleira", formando o padrão Spike and Ledge. As posições compradas na zona entre 1,0765 e 1,0800 devem ser mantidas e ampliadas em eventuais retrações. Os níveis-alvo estão em 1,1220 e 1,1440.