Os investidores estão tão confiantes de que Donald Trump está alinhado com o mercado de ações que o S&P 500 já nem precisa de um motivo concreto para subir. O índice amplo aguardava boas notícias vindas da China, mas os lucros do Alibaba frustraram as expectativas. A Meta Platforms também enfrentou um revés, ao adiar o lançamento de suas tecnologias de inteligência artificial. E, embora os dados econômicos recentes indiquem uma desaceleração na economia dos EUA, isso parece não incomodar o mercado. Os investidores estão viciados em comprar.
Segundo o Bank of America, investidores de varejo vêm adquirindo ações nos EUA há 22 semanas consecutivas — a sequência mais longa desde o início do monitoramento, em 2022. Em contrapartida, o posicionamento em ações entre os fundos sistemáticos está em um dos níveis mais baixos desde 2010, de acordo com o Deutsche Bank.
O público quase não reagiu à primeira queda na produção industrial em seis meses nem à retração nos preços ao produtor, ambos sinalizando uma demanda doméstica enfraquecida. Em vez disso, mostrou-se animado com o modesto aumento de 0,1% nas vendas no varejo, que superou as previsões. Pouco importa que a Pantheon Macroeconomics alerte para uma provável desaceleração significativa nas vendas em maio e junho, já que a onda de consumo motivada pela antecipação das tarifas já ficou para trás.
Tendência das vendas no varejo dos EUA
Os investidores de varejo estão focados na queda dos rendimentos dos títulos do Tesouro, o que teoricamente reduz os custos das empresas. Poucos se preocupam com o fato de que essa queda decorre de dados macroeconômicos fracos — tão fracos que o JPMorgan voltou a levantar a possibilidade de uma recessão. O mercado de futuros agora precifica um ciclo de flexibilização mais agressivo por parte do Fed em 2025, elevando as expectativas de corte de juros de menos de 50 para 55 pontos-base. Para o público, isso é apenas mais um motivo para continuar comprando ações do S&P 500.
O chamado "dinheiro burro" também está sendo influenciado por padrões sazonais. Por exemplo, as sextas-feiras estão se tornando dias mais caros para negociações, inclusive de títulos corporativos. Antes, os investidores costumavam usar o fim da semana para refletir sobre as perspectivas de longo prazo do mercado acionário — agora, estão mais cautelosos. O motivo? O hábito de Donald Trump de divulgar notícias importantes durante os fins de semana.
Dinâmica dos custos de negociação
A menos que algo realmente abale o mercado, os investidores continuarão inflando a bolha do S&P 500. Possíveis gatilhos para novas compras de ações incluem avanços nas negociações comerciais entre os EUA e a União Europeia ou sinais concretos de um cessar-fogo na Ucrânia. Os investidores de varejo tendem a ouvir apenas o que confirma suas expectativas, enquanto o chamado "dinheiro inteligente" permanece à margem — e eles continuam a construir agressivamente posições compradas no índice amplo.
Tecnicamente, no gráfico diário do S&P 500, os touros conseguiram assumir o controle da linha de resistência próxima de 5.900 e empurrar os preços em direção ao recorde histórico registrado em fevereiro. Esse nível está cerca de 4% acima do valor atual, e ainda faz sentido manter posições compradas caso haja um rompimento confirmado. No entanto, uma queda do índice abaixo de 5.865 seria um sinal de reversão, indicando a possibilidade de abertura de posições de venda.