A Câmara dos Deputados aprovou a iniciativa de corte de impostos proposta por Donald Trump. O presidente espera que a medida estimule a economia e compense as deficiências da política comercial. O problema é que, neste momento, os investidores estão mais focados nas preocupações fiscais, especialmente após o rebaixamento da classificação de crédito dos Estados Unidos.
Crescem os temores de que o plano possa ampliar o déficit orçamentário em até US$ 2,7 trilhões ao longo de dez anos, o que vem provocando uma retração no índice S&P 500.
Um déficit maior implica uma emissão adicional de títulos do Tesouro, cujos rendimentos estão subindo rapidamente — algo esperado, já que os investidores agora exigem retornos mais altos. Os efeitos dessa movimentação já se fazem sentir em outros mercados, inclusive na Europa e na Ásia. A situação atual remete a momentos de tensão semelhantes: os EUA nos anos 1990, a zona do euro na década de 2010 e o Reino Unido em 2022, quando crises da dívida soberana forçaram governos a recuar de seus planos econômicos.
Dinâmica do rendimento do Tesouro dos EUA
A Moody's, ao rebaixar a nota de crédito dos EUA, alertou que a dívida federal pode subir dos atuais 100% para 134% do PIB até 2025. Se a Casa Branca não agir com urgência, a alta nos rendimentos dos títulos deve persistir — uma má notícia tanto para os consumidores, que enfrentarão juros mais altos em empréstimos, quanto para o Tesouro, que terá de pagar mais por suas captações. No fim das contas, toda a economia será impactada negativamente.
Com Washington recuando nas tarifas e os rendimentos dos Treasuries em alta, o UBS e o Goldman Sachs recomendam uma estratégia de "barra" (barbell): comprar ações voltadas ao consumo e vender papéis do setor imobiliário, mais sensíveis ao aumento dos custos de financiamento. O spread entre esses dois setores atingiu seu nível mais alto desde 2023.
Desempenho relativo: Ações do setor de consumo vs. ações do setor imobiliário
Portanto, surpreende que o índice amplo de ações tenha ignorado o PMI composto positivo de maio nos EUA, bem como a declaração do membro do FOMC, Christopher Waller, de que o Federal Reserve retomará o ciclo de flexibilização monetária no segundo semestre do ano, desde que as tarifas se estabilizem em torno de 10%? Quando o medo domina os mercados, até as boas notícias tendem a ser ignoradas.
Perspectiva técnica
O S&P 500 formou uma barra doji após uma barra de amplo alcance no gráfico diário, indicando incerteza. Faz sentido aumentar as posições vendidas se os preços caírem abaixo de 5825 e considerar o retorno às posições de compra em um rompimento acima do nível de resistência de 5905.