Estamos realmente vivendo um período atípico, no qual os princípios clássicos de avaliação das condições de mercado estão sendo deixados de lado em favor de fatores mais urgentes e, mais importante ainda, de cenários incertos e indefinidos quanto aos desdobramentos futuros.
Tradicionalmente, o fator mais relevante na determinação do valor de uma moeda em relação a outra é o diferencial de juros entre os bancos centrais dos respectivos países. Naturalmente, também se deve considerar a balança comercial, as perspectivas econômicas nacionais e, especialmente, a trajetória da política monetária — ou seja, se o banco central tende a aumentar ou reduzir as taxas de juros no futuro próximo.
Esses fundamentos sólidos funcionaram de forma consistente no passado, ajudando os investidores a avaliar o potencial de valorização ou desvalorização dos pares cambiais. Contudo, como já mencionado, o cenário atual é significativamente diferente. O Federal Reserve não reduz os juros há meses. Como um soldado de chumbo inabalável, o presidente do Fed, Jerome Powell, continua a afirmar, a cada reunião, que não há motivo para retomar os cortes, citando a incerteza quanto aos resultados das políticas de Donald Trump. Enquanto isso, outros grandes bancos centrais — como o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu e, mais recentemente, o Banco da Reserva da Austrália e o Banco da Reserva da Nova Zelândia — já iniciaram ciclos de afrouxamento monetário. E, ainda assim, a libra esterlina, o euro, o dólar australiano e o dólar neozelandês não se enfraqueceram frente ao dólar. Na verdade, até se valorizaram recentemente, contrariando os modelos clássicos de avaliação cambial.
Por que isso está acontecendo? Por que os mercados estão ignorando fatores que, teoricamente, favoreceriam o dólar?
Existem duas ou até três razões principais — além de várias secundárias. Em primeiro lugar, como já mencionado, há uma incerteza global em torno das consequências geopolíticas e econômicas das ações de Trump. Seus esforços para impulsionar a economia americana terão sucesso ou acabarão em colapso? Essa incerteza, somada à pressão por um aumento significativo da dívida pública dos EUA, está afastando potenciais compradores de títulos do Tesouro, o que, por sua vez, reduz a demanda por dólares.
Em segundo lugar, a economia dos EUA apresenta uma forte probabilidade de entrar em recessão. Isso pode ser confirmado por revisões para baixo nos dados do PIB do primeiro trimestre, esperadas ainda esta semana, podendo inclusive indicar contração. Isso levanta a seguinte questão: quem quer a moeda de um país em crise?
Em terceiro lugar — e de forma mais evidente — cresce a expectativa de que o Fed retome os cortes nas taxas de juros mais cedo do que se previa — possivelmente já em junho ou julho. Essa perspectiva é reforçada pela desaceleração da inflação anual para perto de 2,3%, pelo aumento dos riscos de recessão e pela deterioração de diversos indicadores econômicos.
Esses e outros fatores continuam pressionando o dólar e favorecendo os ganhos de seus principais pares no mercado Forex. Dado esse contexto, é provável que o dólar continue sua trajetória de queda em direção ao nível de 90 pontos no índice do dólar.
O que podemos esperar dos mercados hoje?
Hoje, o mercado se concentrará na divulgação da ata da última reunião do Fed. Se o documento sugerir uma probabilidade de cortes nas taxas no curto prazo, isso provavelmente exercerá uma pressão de baixa sobre o dólar e, após um recuo de curto prazo, poderá reativar seu declínio mais amplo em relação às principais moedas.
Previsão do dia:
USD/JPY
O par está sendo negociado abaixo do nível de resistência de 144,80. Um sinal dovish nas atas do Fed pode pressionar o par para baixo — inicialmente em direção a 142,35, e posteriormente ao forte nível de suporte em 140,00, que se mantém desde o outono de 2023. A marca de 144,24 pode servir como um ponto de entrada para posições curtas.
EUR/USD
O par está sendo negociado acima do nível de suporte de 1,1280. Um sinal do Fed pode apoiar o euro, impulsionando um movimento em direção a 1,1400. O nível 1,1317 pode ser um bom ponto de entrada para posições de compra.