Não há motivo para pânico. O mercado está apenas agindo com cautela diante do retorno da Casa Branca à estratégia de tarifas, anunciada no Dia da Independência dos Estados Unidos. Donald Trump enviou cartas a diversos países detalhando as novas tarifas de importação. Ainda assim, o presidente também declarou estar aberto a negociações. Com isso, os investidores seguem incertos sobre se essas tarifas serão realmente implementadas, o que limita as expectativas de uma correção mais acentuada no índice S&P 500.
Vale lembrar que, no início de abril, os mercados reagiram de forma bem mais intensa à política tarifária mais agressiva da Casa Branca desde o começo do século XX. Três meses depois, a resposta está sendo bem mais moderada. Hoje, os derivativos do S&P 500 apontam para oscilações menores do que as vistas, por exemplo, durante a divulgação dos dados de inflação nos EUA ou nas expectativas em torno da reunião do Fed marcada para julho.
Volatilidade esperada do S&P 500 em resposta a eventos importantes
Os mercados já conhecem bem a estratégia de Donald Trump. Suas ameaças costumam ser seguidas por adiamentos, enquanto negociações sob pressão servem para tentar arrancar concessões em favor dos Estados Unidos. É verdade que a Casa Branca reacendeu uma guerra comercial, mas também deixou a porta aberta para possíveis acordos. O simples fato de as tarifas não estarem previstas para subir em julho já é visto como uma boa notícia para o S&P 500. Não seria surpreendente se investidores de varejo logo começassem a aproveitar a queda dos preços para entrar nas compras.
Além disso, o índice mais amplo de ações tem enfrentado ventos contrários vindos de um dólar mais forte e do aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano. Em abril, o temor dos investidores era sobre o futuro do PIB dos Estados Unidos, e falava-se abertamente sobre risco de recessão. Agora, em julho, o clima mudou — há mais confiança de que a economia conseguirá atravessar o período turbulento. Como consequência, as posições especulativas vendidas no dólar começam a parecer exageradas, aumentando a chance de vermos uma correção no índice do dólar americano.
Dinâmica da posição líquida em USD
Um dólar americano mais forte está pressionando os lucros das empresas dos Estados Unidos que têm operações no exterior. Além disso, o aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro está elevando os custos de financiamento dessas companhias. Lucros corporativos mais fracos acabam sendo um argumento sólido para a pressão vendedora sobre o S&P 500.
A queda do índice foi ainda mais acentuada por um tombo nas ações da Tesla. Elon Musk anunciou a criação de um novo partido político, e Donald Trump não perdeu tempo em criticar o empresário, o que contribuiu para a volatilidade no mercado.
No geral, o retorno das tarifas estabelecidas não representa, por enquanto, uma escalada completa da guerra comercial. Novas rodadas de negociação e possíveis acordos comerciais podem, inclusive, levar à redução das tarifas finais sobre as importações. O S&P 500 conseguiu se recuperar da turbulência do Dia da Libertação dos Estados Unidos e até atingiu novos recordes. Então, por que o índice não poderia subir ainda mais?
Do ponto de vista técnico, o S&P 500 recuou até a linha de tendência de alta no gráfico diário, voltando a um importante nível de suporte na região do ponto de pivô, em 6.210. A dificuldade dos ursos em romper esse patamar indica fraqueza do lado vendedor. A recuperação do índice permitiu que os investidores mantivessem posições compradas iniciadas a partir de 6.051 — e, por ora, vale a pena mantê-las.