Na sexta-feira, os mercados financeiros globais foram atingidos por um duplo golpe que pode ter um impacto de forma significativa sobre as perspectivas mais amplas do mercado.
Na manhã de 1º de agosto, conforme prometido pelo presidente dos Estados Unidos, entraram em vigor novas tarifas de importação, variando entre 10% e 41%, aplicadas a países que mantêm relações comerciais com os EUA. Embora os mercados já esperassem essa medida, teve início uma queda gradual em todos os segmentos, sem exceção. Apenas o ouro e os títulos do Tesouro registraram leve alta.
A princípio, o recuo foi relativamente moderado, sem sinais da liquidação mais acentuada que viria a seguir e que poderia transformar o cenário dos mercados. Mas, como costuma acontecer, as surpresas vêm de onde menos se espera: o relatório de emprego dos EUA referente a julho revelou-se não apenas decepcionante, mas extremamente negativo. O documento indicou que, ao contrário do que afirma Donald Trump, a economia norte-americana já começou a sentir os efeitos adversos não só das guerras tarifárias, mas também das políticas migratórias da atual administração, que vêm limitando o crescimento de vagas de baixa remuneração, que é tradicionalmente preenchidas por imigrantes vindos do México, América Central e América do Sul.
Segundo os dados divulgados, a economia dos EUA criou apenas 73 mil empregos em julho, bem abaixo da projeção de 106 mil. Pior ainda: os números de geração de empregos de junho e maio foram revisados significativamente para baixo. Esses dados indicam que a economia enfrenta sérios obstáculos, com juros persistentemente elevados e uma taxa de inflação ainda muito acima da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve.
Como mencionado, os participantes do mercado foram pegos de surpresa, o que desencadeou uma forte onda de vendas. Ao mesmo tempo, os dados serviram de base para que economistas e investidores reavaliassem as perspectivas da política monetária do Fed. Os contratos futuros atrelados à taxa efetiva de fundos federais (EFFR) apontaram uma mudança drástica nas expectativas. Antes, a probabilidade de um corte de juros em setembro era considerada baixa — em grande parte devido à postura cautelosa de Jerome Powell. No entanto, o fraco relatório de emprego elevou abruptamente essa expectativa: agora, o mercado precifica mais de 80% de chance de um corte de 0,25 ponto percentual, o que reduziria a faixa da taxa básica para 4,00%–4,25%, ante o intervalo atual de 4,25%–4,50%.
Existe a possibilidade de um corte nas taxas em setembro?
O mercado acredita nisso, e eu concordo. Powell pode não ter outra escolha, pois ele já vem sendo criticado por sua postura excessivamente cautelosa em relação à política monetária, e essa crítica tende a se intensificar em agosto, dificultando ainda mais sua resistência. Um dos sinais mais claros de que um corte de juros pode estar a caminho é a queda nos rendimentos dos Treasuries norte-americanos. A taxa de referência para o título de 10 anos recuou para 4,200%, indicando que os mercados já começaram a precificar uma redução em setembro. No entanto, a liquidação no mercado de títulos também foi impulsionada pela decisão impulsiva de Donald Trump de demitir a diretora de estatísticas do Bureau of Labor Statistics (BLS), Erica McEntarfer, sob acusação de falsificação de dados.
Existe o risco de que o colapso do mercado registrado na sexta-feira continue?
Certamente, não faltam catalisadores negativos: as novas tarifas impostas por Trump, o risco de recessão nos EUA sugerido pelos dados do mercado de trabalho, e as ações imprevisíveis do presidente, que seguem alimentando a incerteza. No entanto, é possível que boa parte desses fatores já esteja precificada, especialmente após a divulgação do fraco relatório de emprego. Agora, os investidores podem se apegar a uma única esperança: a perspectiva de cortes nos juros por parte do Federal Reserve. Vale lembrar que um mercado acionário em queda é altamente indesejável para os Estados Unidos, sobretudo para grandes investidores, empresas e corporações, cujos ativos perdem valor nesse cenário.
A pressão sobre Powell provavelmente aumentará, não apenas por parte do presidente, mas também de grupos influentes do mercado financeiro, o que pode contribuir para conter novas perdas nas bolsas.
A correção pode continuar hoje, mas também existe a possibilidade de estabilização e até de reversão, impulsionada pelas expectativas renovadas de cortes nos juros. Por isso, ganham relevância nesta semana os comentários dos membros votantes do FOMC, bem como os dados do setor manufatureiro e a nova leva de resultados corporativos.
Previsão diária:
#SPX
O contrato de CFD sobre os futuros do S&P 500 está se recuperando após uma forte queda na sexta-feira. A renovada atenção aos dados do mercado de trabalho e o aumento das chances de um corte de juros em setembro podem impulsionar o contrato até 6.331,35 após o rompimento do nível de 6.268,50. Um possível ponto de compra pode estar em torno de 6.275,91.
#NDX
O contrato de CFD sobre os futuros do NASDAQ 100 também está se recuperando após o colapso de sexta-feira. As preocupações com o mercado de trabalho e a elevação das expectativas de corte de juros pelo Fed em setembro podem levar o contrato até 23.275,00 após superar o nível de 22.902,50. Um possível ponto de compra pode estar em torno de 22.940,50.
