O Fed está prestes a cortar os juros em setembro — em uma situação que lembra, dolorosamente, a do ano passado. Naquela ocasião, o banco central também apontou a fraqueza do mercado de trabalho e iniciou um ciclo de afrouxamento monetário. Déjà vu? Na prática, há diferenças relevantes em relação a 2024. Elas indicam que não é seguro presumir que o Fed repetirá a mesma velocidade de ação — ou que o EUR/USD seguirá o mesmo percurso.
Durante o verão, a criação de vagas nos EUA desacelerou para uma média de apenas 29 mil por mês, contra 100 mil no primeiro trimestre. Já o desemprego vem subindo de forma muito mais lenta — diferente de 2024, quando um salto de 0,6 ponto percentual forçou o Fed a cortar os juros. Agora, fica claro que a principal causa da fraqueza no mercado de trabalho é a política anti-imigração de Donald Trump.
Tendências dos títulos do Tesouro dos EUA e do dólar
A dinâmica da inflação também é bem diferente da do ano passado. No final de 2024, os preços estavam em desaceleração; agora, sobem por causa das tarifas. Ainda assim, o Fed considera essa alta temporária e, com ou sem pressão da Casa Branca, mantém a intenção de cortar os juros. Essas expectativas já pressionam os rendimentos dos Treasuries para baixo. Em teoria, isso deveria enfraquecer o dólar, mas os compradores de EUR/USD não parecem dispostos a impulsionar o par.
Por quê? Em grande parte porque o mercado de derivativos está excessivamente focado no fim do ciclo de afrouxamento do BCE e na possibilidade de três cortes do Fed em 2025. Hoje, os derivativos atribuem apenas 40% de chance a um corte na taxa de depósito do BCE até meados de 2026. Mesmo assim, vozes como a do presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, defendem que uma medida adicional não pode ser descartada — posição compartilhada por colegas da Lituânia e da Letônia.
Essa divisão dentro do Conselho do BCE pesa sobre os compradores de EUR/USD, assim como as projeções atualizadas da Bloomberg para o Fed. A estimativa média agora aponta para dois cortes em 2025, enquanto só 40% dos entrevistados apostam em três cortes. Em contraste, o mercado de derivativos mostra mais de 80% de confiança em um corte de 75 pontos-base ainda este ano.
Previsões da taxa do Fed
A Amundi compartilha dessa visão, projetando três cortes de juros pelo Fed e dois pelo BCE. O raciocínio é que a economia da zona do euro segue enfraquecida e precisa de estímulos, e que o BCE se sentirá mais confortável em flexibilizar a política se o Fed também estiver nessa direção.
Por isso, os mercados já antecipam grandes divergências no ritmo de cortes entre o BCE e o Fed. Na prática, porém, o cenário está longe de ser tão definido.
No gráfico diário do EUR/USD, o repique a partir do valor justo e dos suportes dinâmicos, como as médias móveis, devolveu momentaneamente a iniciativa aos compradores. Ainda assim, os vendedores não parecem dispostos a recuar. O desfecho para o principal par cambial dependerá da capacidade de romper a faixa de 1,163–1,173. Uma consolidação acima de 1,173 abriria espaço para a ampliação das posições compradas.