Os preços do ouro e da prata sofreram sua maior liquidação dos últimos doze anos, levantando preocupações de que a disparada observada nas últimas semanas tenha levado esses ativos a uma valorização excessiva.
O ouro à vista está sendo negociado em torno de US$ 4.140 por onça, após cair 6,3% na sessão anterior — a maior queda intradiária em mais de doze anos. A prata registrou um leve aumento após uma queda de 8,7% na terça-feira.
A forte correção ocorreu após sinais técnicos indicarem que o rápido rali de preços em ambos os metais os havia levado a uma zona de sobrecompra extrema.
Muitos especialistas enfatizam que a venda técnica foi a principal causa da correção. Os preços vinham operando na zona de sobrecompra desde o início de setembro, tornando praticamente inevitável uma liquidação.
O recuo interrompeu bruscamente um forte rali iniciado em meados de agosto. Os principais motores do recente movimento de alta incluíram o chamado "debasement trading", no qual investidores evitam títulos soberanos e moedas como forma de proteção contra déficits orçamentários descontrolados, além das apostas de que o Federal Reserve implementaria pelo menos um corte significativo na taxa de juros antes do fim do ano. Apesar do recuo, o ouro ainda acumula alta de quase 60% no ano.
As ações agressivas do presidente Donald Trump em suas tentativas de reformar o comércio global, juntamente com o aumento da incerteza geopolítica, também impulsionaram a valorização dos metais preciosos neste ano. Bancos centrais, interessados em diversificar suas reservas e reduzir a dependência do dólar norte-americano, mantiveram compras, enquanto investidores de varejo redirecionaram recursos para fundos negociados em bolsa (ETFs), buscando aproveitar o rali.
Após a forte liquidação, o Citigroup Inc. rebaixou sua recomendação para o ouro de "overweight" (acima da média do mercado), citando preocupações com o posicionamento em um mercado sobrecomprado. O banco espera que os preços se consolidem em torno de US$ 4.000 por onça nas próximas semanas.
A correção também ocorreu enquanto os investidores avaliavam possíveis avanços nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China, após uma recente escalada nas tensões que havia impulsionado a demanda por ativos de refúgio. Na terça-feira, Trump previu que uma próxima reunião com o presidente chinês Xi Jinping resultaria em um acordo comercial favorável, embora tenha admitido que as conversas talvez nem aconteçam.
A paralisação do governo dos EUA também privou os traders de uma de suas ferramentas mais valiosas: o relatório semanal da Commodity Futures Trading Commission (CFTC), que revela como os fundos de hedge e outros gestores de ativos estão posicionados nos mercados futuros de ouro e prata dos EUA. Sem esses dados, os especuladores estão mais propensos a formar posições incomumente grandes em qualquer direção.
Quadro técnico
Os compradores precisam recuperar a resistência mais próxima em US$ 4.186 para atingir US$ 4.249, um nível acima do qual um rompimento seria difícil de sustentar. O alvo mais distante está na região de US$ 4.304.
Caso o ouro recue, os vendedores tentarão retomar o controle na região de US$ 4.124. Um rompimento bem-sucedido abaixo dessa faixa poderia representar um golpe significativo para as posições de compras e empurrar o ouro para a mínima de US$ 4.062, com potencial para atingir US$ 4.008.