As tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, geraram desdobramentos interessantes na economia global. Segundo economistas, o impacto inicial dessa política tarifária foi mais contido do que o esperado — o que levanta algumas questões: as consequências econômicas de longo prazo também serão limitadas? Ou a situação ainda pode se agravar? Só o tempo dirá.
A remoção da maior parte das tarifas retaliatórias entre os Estados Unidos e a China deu um impulso significativo ao sentimento do mercado. As bolsas globais registraram forte recuperação, com destaque para o S&P 500, que se aproximou de sua máxima de fevereiro. Por outro lado, o dólar americano teve desempenho mais fraco, acumulando uma queda de 7%. Paralelamente, os rendimentos de curto prazo diminuíram, enquanto os preços do petróleo caíram US$ 10 por barril — mais do que compensando o aperto nas condições financeiras.
Especialistas da Capital Economics apontam que os dados macroeconômicos recentes indicam efeitos moderados das tarifas. As receitas aduaneiras subiram para US$ 15,6 bilhões em abril, ante os US$ 8,2 bilhões anteriores. No entanto, esse valor representa apenas US$ 187 bilhões em termos anuais — bem abaixo dos US$ 380 bilhões que seriam esperados com uma tarifa média de 15%.
A consultoria também avaliou que muitas empresas optaram por suspender temporariamente suas importações, na expectativa de novos cortes tarifários ou da isenção de mais produtos por parte de Trump, recorrendo aos estoques disponíveis enquanto aguardavam definições.
Os dados de preços ao consumidor mostram pressões inflacionárias mínimas. O núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA subiu apenas 0,06% em relação ao mês anterior. Quedas nos preços de roupas, carros usados e alimentos compensaram os aumentos registrados em eletrodomésticos e eletrônicos.
Até agora, muitos fabricantes estrangeiros de automóveis têm conseguido evitar o repasse de custos ao consumidor final, utilizando estoques já disponíveis. No entanto, caso as negociações comerciais se estagnem, é possível que ocorra escassez de produtos até o verão. As vendas no varejo e a produção industrial também recuaram ligeiramente em abril, após a aceleração observada em março. Diante disso, a Capital Economics revisou sua projeção de crescimento do PIB no segundo trimestre de 2025, de 2,0% para 2,6%.
Nesse contexto, o impacto de longo prazo das tarifas de Trump permanece incerto. Para a Capital Economics, os efeitos devem se manifestar de forma gradual. A consultoria projeta que a inflação do núcleo do CPI atingirá um pico abaixo de 4%, enquanto a inflação geral deve permanecer abaixo de 3,5%. Ao mesmo tempo, o estímulo fiscal pode compensar parte da arrecadação tarifária, ajudando a manter o crescimento do PIB em torno de 2% na segunda metade de 2025.