O Deutsche Bank lembra que a fórmula clássica para reduzir a dívida pública combina um superávit primário sustentável com crescimento econômico robusto. O problema é que, nas condições políticas atuais, esses dois ingredientes parecem muito mais teóricos do que realmente viáveis para a maioria dos países.
Nesse contexto, a inflação volta ao debate — não como uma catástrofe, mas como um possível mecanismo para aliviar o peso da dívida. A alta dos preços reduz o valor real das obrigações já acumuladas, permitindo que governos paguem seus débitos com um dinheiro “mais barato” no futuro. Isso é especialmente relevante no caso de dívidas com taxa fixa, que se tornam mais fáceis de administrar quando a renda cresce de forma consistente.
Contudo, esse efeito só funciona sob uma condição: que os bancos centrais não combatam a inflação com fortes elevações de juros. É justamente aí que o otimismo se desfaz. Analistas destacam que, na maior parte das vezes, os potenciais benefícios da inflação foram praticamente anulados pelo aumento dos rendimentos dos títulos, o principal instrumento utilizado para controlar a própria inflação.
Além disso, as experiências internacionais variam significativamente: em alguns países, a inflação de fato ajudou a aliviar o balanço público; em outros, os aumentos de juros apenas ampliaram o peso da dívida e exigiram uma disciplina fiscal ainda mais rigorosa.
O Deutsche Bank ressalta que a inflação só se torna um instrumento eficaz de redução da dívida quando os rendimentos podem ser controlados. Isso depende diretamente da política monetária — desde limites explícitos às taxas de juros até formas mais sutis de repressão financeira. No entanto, essa estratégia só é viável em ambientes marcados por elevado endividamento nacional, restrições aos fluxos de capitais e um banco central disposto a cooperar.
Em outras palavras, a inflação pode ajudar — mas apenas se não for combatida com excesso de rigor. Para a maioria dos países, permanece uma ferramenta imperfeita, porém a mais realista para reduzir o estoque de dívida acumulada, desde que as autoridades consigam impedir que o custo de financiamento dispare.