Por muito tempo, os mercados funcionaram como um cabo de guerra: sinais de fraqueza da economia dos EUA pressionavam o S&P 500 para baixo, enquanto as expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve e a confiança na tecnologia de inteligência artificial equilibravam a balança para o lado oposto. O índice amplo de ações alcançou, repetidas vezes, máximas históricas. No entanto, ao final de setembro, a situação pareceu se inverter: uma sequência de três quedas consecutivas tornou-se a maior série de perdas em um único mês.
Dinâmica do S&P 500
É como se os participantes do mercado tivessem trocado de papéis. Dados impressionantes sobre PIB, pedidos de auxílio-desemprego e encomendas de bens duráveis não beneficiaram os "touros" do S&P 500. Enquanto isso, a probabilidade de um corte de juros pelo Fed em outubro caiu apenas levemente — de 94% para 89%. Essa combinação de uma economia resiliente e a manutenção da confiança em um afrouxamento monetário indica que o principal motivo para o recuo mais amplo do mercado foi o impacto da inteligência artificial.
Nos últimos três anos, as gigantes de tecnologia investiram em IA um montante equivalente ao gasto necessário para construir o sistema rodoviário interestadual dos EUA ao longo de quarenta anos. Ninguém sabe quando esses investimentos irão se concretizar em retorno. Segundo a Sequoia, seriam necessários US$ 800 bilhões em receitas de chips ao longo de sua vida útil, que, para a maioria deles, é de cerca de 3 a 5 anos.
Dinâmica econômica dos EUA
Segundo pesquisa do Morgan Stanley, a receita de produtos de IA em 2024 atingiu US$ 45 bilhões. As empresas lucraram principalmente por dois canais: assinaturas de chatbots e taxas de uso de data centers. Determinar quando o setor de tecnologia conseguirá fechar essa lacuna representa uma questão de trilhões de dólares.
A situação remete dolorosamente ao final do século 20, quando empresas investiram enormes quantias em tecnologias de internet, inflando a bolha das pontocom. Quando ela estourou, o setor de tecnologia foi o mais afetado.
Os investidores estão cada vez mais atentos à elevada valorização do S&P 500. Atualmente, o índice amplo do mercado negocia a quase 23 vezes o lucro esperado para os próximos 12 meses. Essa é apenas a terceira vez que o P/L atinge um patamar tão alto, com as duas anteriores ocorrendo durante a crise das pontocom e a pandemia de COVID-19.
Ainda assim, se a economia dos EUA permanecer sólida e o Fed realmente cortar os juros, a estratégia de comprar nas quedas das ações americanas continua sendo viável. Afinal, não há pânico em relação à inteligência artificial — apenas dúvidas.
Quadro técnico: No gráfico diário do S&P 500, houve um repique a partir do suporte no nível de pivô próximo a 6.570, com a formação de um candle doji de longa sombra inferior. Como resultado, foram abertas posições compradas. A oportunidade de aumentar essas posições surgirá caso a máxima do doji, próxima a 6.620, seja rompida.