A Apple escapou por pouco de um cenário complicado. A gigante da tecnologia, altamente dependente da China para sua cadeia de suprimentos, esteve sob ameaça direta com as tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos chineses. Por ora, a empresa ganhou um respiro — embora a pergunta persista: até quando?
A notícia positiva teve efeito imediato: no dia 14 de abril, as ações da Apple saltaram 4,9%, impulsionadas por uma onda de otimismo nos mercados.
Dias antes, em 11 de abril, a Casa Branca concedeu à Apple uma importante isenção ao retirar das tarifas uma série de produtos populares da marca, como iPhone, iPad, Mac, Apple Watch e AirTags. Apesar disso, a possibilidade de novas tarifas direcionadas a componentes semicondutores e até uma taxa de 20% sobre eletrônicos vindos da China ainda paira no ar. No entanto, o calendário exato dessas medidas ainda não está definido.
Nesse intervalo, a Apple desfruta de um alívio temporário, mas ainda está longe de ser hora para comemorações. Segundo o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, dispositivos como smartphones e outros eletrônicos, que hoje estão fora do alcance tarifário, devem ser incluídos em futuras medidas voltadas à cadeia de semicondutores.
A decisão do governo americano de adiar essas tarifas foi recebida como uma vitória, tanto para a Apple quanto para o setor de eletrônicos de consumo, que ainda depende fortemente da produção asiática. Amit Daryanani, analista da Evercore ISI, avaliou que a trégua tarifária seria crucial para a Apple, pois a imposição dessas tarifas poderia aumentar os custos de forma significativa.
Antes mesmo da trégua de Washington, a Apple já se preparava, tendo em mente uma reestruturação logística para expandir a fabricação de iPhones na Índia, voltados ao mercado americano. Atualmente, a empresa vende cerca de 220 a 230 milhões de iPhones por ano, sendo que cerca de um terço dessas unidades é comercializado nos EUA. Com fábricas já operando na Índia, a capacidade de produção anual por lá pode chegar a 30 milhões de unidades.
O iPhone continua sendo o carro-chefe da Apple em termos de lucratividade. Hoje, aproximadamente 87% dos aparelhos são montados na China. No caso do iPad, essa taxa é de 80%, e os Macs têm cerca de 60% da produção concentrada lá. Juntos, esses três produtos representam cerca de 75% do faturamento anual da empresa. Paralelamente, a Apple já transferiu grande parte da produção dos Apple Watches e AirPods para o Vietnã, além de parte dos iPads e Macs.
Ainda assim, o fantasma das tarifas pode mudar esse cenário, pois romper totalmente com a China, que serve como base de produção da Apple há décadas, seria extremamente desafiador. Mudar a linha de montagem para os EUA, por exemplo, esbarra em uma escassez de mão de obra técnica qualificada. Na visão da própria empresa, esse cenário é pouco viável no curto prazo.