O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a recorrer à sua ferramenta econômica preferida: as tarifas. Desta vez, o alvo inclui 14 países — de Japão a Bósnia e Laos — com taxas que podem chegar a 40% a partir de 1º de agosto. No entanto, diferentemente de ocasiões anteriores, os mercados globais praticamente não reagiram.
No Japão, o índice Nikkei 225 subiu 0,3%. Na Coreia do Sul, o Kospi disparou 1,8%. Já na Europa, o clima foi de cautela diplomática, com o STOXX 600 recuando apenas 0,09%. Enquanto isso, Wall Street operava em alta — tudo isso mesmo após cartas incisivas sobre tarifas terem sido enviadas a quase metade do mundo. Afinal, onde está o pânico?
A resposta pode estar em um novo jargão de Wall Street: “TACO trade” — uma sigla irônica para Trump Always Chickens Out (“Trump sempre recua”). Quando o presidente descreve um prazo como “firme, mas não 100% firme”, os investidores entendem que se trata apenas de mais um episódio de retórica agressiva, sem grande consequência prática.
Para muitos analistas, o mercado já se adaptou a esse tipo de comportamento: ameaças seguidas de recuos estratégicos. Além disso, o fato de economias-chave como União Europeia, Índia e Taiwan não terem recebido cartas sugere que esses países podem estar negociando discretamente para evitar um confronto direto.
Economistas também apontam que, mesmo que as tarifas subam de 15,5% para 17,3%, o impacto seria limitado. A experiência passada mostra que os consumidores americanos tendem a absorver parte do custo, enquanto o governo de Trump costuma usar a arrecadação tarifária como instrumento de estímulo econômico.
Na Europa, o tom também é de prudência. Diplomatas sinalizam que Washington ainda está aberto a negociações. Há, inclusive, esboços de um possível acordo: uma tarifa-base de 10%, com isenções para setores estratégicos, como bebidas alcoólicas e aviação. Mas, como sempre, tudo depende do humor da Casa Branca — ou seja, do próximo movimento de Trump.
Ainda assim, especialistas como Tony Meadows, da BRI Wealth Management, alertam: por mais que os mercados estejam tratando essas tarifas como parte do “jogo comercial”, na prática, elas funcionam como impostos sobre a economia real. E, se esse mecanismo começar a girar de verdade, a calmaria atual pode dar lugar a turbulência.
Por enquanto, os mercados enxergam mais um capítulo conhecido dessa novela tarifária. As apostas de que tudo isso vai passar estão aumentando. Mas, quem sabe, desta vez o roteiro não reserve um final inesperado?