Ao longo da última década, a China investiu de forma consistente na infraestrutura de países em desenvolvimento. Segundo o The New York Times, o país asiático está hoje mais bem preparado para uma guerra comercial com os Estados Unidos do que seu rival. Trump pode anunciar novas tarifas a cada semana, mas, nesse ínterim, Pequim já consolidou rotas comerciais alternativas, com estradas, portos e dividendos políticos.
Essa estratégia vinha sendo construída há anos. Projetos de infraestrutura na África, Ásia e América Latina funcionaram como uma espécie de seguro contra tarifas americanas. Quando as exportações para os EUA caíram cerca de 15%, a China conseguiu redirecionar esse volume para outros mercados, minimizando o impacto sobre o total exportado. Paralelamente, o superávit comercial avançou de US$ 612,6 bilhões para US$ 785,8 bilhões, mesmo diante do boicote às compras de soja americana.
Nos novos mercados, empresas chinesas atuam com firmeza e competitividade. Veículos elétricos ganham espaço na Europa e no Sudeste Asiático, enquanto painéis solares se expandem pela África. Para os EUA, a dificuldade é que, mesmo com tarifas entre 125% e 145%, Pequim mantém o crescimento econômico, sem dar sinais de recuo.
Trump, por sua vez, respondeu com sua própria maratona tarifária: em 2 de abril, anunciou impostos sobre produtos de 185 países de uma só vez. Primeiro, um acréscimo universal de 10%, seguido de tarifas específicas, incluindo um expressivo 145% direcionado à China. O ritmo acelerado dessas medidas levou investidores a interpretar que a Casa Branca buscava também um efeito político de espetáculo.
Após algumas semanas de escalada, uma trégua foi firmada em Genebra: as tarifas foram reduzidas por 90 dias (para 30% e 10%, respectivamente). Essa pausa expirou em agosto, mas Trump a prorrogou por mais três meses. No fim, a disputa extenuou ambos os lados.
O fato é que a China se preparou para um conflito de longo prazo e construiu uma rede global de alianças, enquanto os EUA têm reagido de forma mais imediatista. O tempo dirá quem terá mais recursos e paciência. O que já se percebe é que Pequim encara a guerra comercial não como um desastre, mas como um teste inesperado — e chegou a ele preparada.