As tensões em Washington voltam a subir. Em busca de um “grande acordo”, Donald Trump tem adotado um tom surpreendentemente conciliador com Pequim, o que deixou até mesmo os formuladores de políticas mais duros temendo por seus cargos. A Casa Branca vem dando cada vez mais peso às opiniões de líderes do setor de tecnologia, enquanto as vozes que defendem uma postura mais rígida em relação à China perdem espaço nas decisões estratégicas.
Trump parece jogar no longo prazo com os chineses. Começou oferecendo um alívio temporário ao TikTok e aprovou, de forma discreta, a venda de chips de IA da Nvidia para compradores chineses. Além disso, reconfigurou o Conselho de Segurança Nacional, tornando-o mais favorável ao setor corporativo e menos confrontacional. Analistas acreditam que o órgão pode, em breve, priorizar o consenso em detrimento do debate crítico, substituindo o exame rigoroso das relações EUA-China por discussões mais protocolares e contidas.
Pequim respondeu positivamente aos últimos movimentos, e sua influência na relação bilateral parece ter crescido. A administração norte-americana fez concessões visíveis, permitindo que o TikTok continue operando e autorizando exportações de chips avançados para a China. O tom ficou notavelmente mais conciliador, a ponto de o CEO da Nvidia, Jensen Huang, criticar publicamente os formuladores de políticas dos EUA que defendem restrições mais severas, afirmando que essa abordagem prejudica o ambiente de negócios.
A reação veio rápida. O ex-assessor de Trump, Steve Bannon, chegou a pedir a prisão de Huang, acusando-o de ser um “agente de influência chinesa”, uma escalada dramática que parece ter mais a ver com ganhos políticos imediatos do que com preocupações reais de segurança nacional.
No setor de tecnologia dos EUA, predomina a visão de que o país deve manter a indústria chinesa dependente da tecnologia americana. Essa dependência é vista como uma alavanca estratégica que prende Pequim à inovação dos EUA e limita sua capacidade de desenvolver o know-how necessário para competir nos mercados globais com suas próprias exportações de alta tecnologia.
Por sua vez, a Casa Branca insiste que as tarifas de Trump continuam sendo uma ferramenta essencial de pressão sobre a China, enquanto tenta equilibrar firmeza e diplomacia nas negociações com Xi Jinping, uma política que mistura assertividade e pragmatismo para manter o jogo sob controle.