Pequim decidiu não apenas acumular barras de ouro, mas também desafiar Donald Trump e o dólar americano.
Na última década, a China vem colecionando ouro como um filatelista busca selos raros. Atualmente, suas reservas já a colocam entre os seis maiores detentores de ouro do mundo. Quando o preço do metal ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 4.000 por onça troy, ficou claro que o momento perfeito havia chegado — impulsionado pelas políticas caóticas de Trump e pela ansiedade global.
Neste ano, a China transformou Hong Kong em um verdadeiro supermercado offshore de negociação de ouro, inaugurando o primeiro “cofre de ouro” da Bolsa de Xangai. Agora, o país convida bancos centrais e fundos soberanos de todo o mundo a armazenarem seus lingotes em depósitos chineses. O objetivo é simples e ambicioso: tornar o yuan não apenas uma moeda, mas um “ímã dourado” de reserva de valor.
“Todos os fatores se alinharam: os países estão diversificando suas reservas, a volatilidade está crescendo e sistemas de pagamento alternativos estão surgindo”, observa Ding Shuang, do Standard Chartered.
Como maior produtor de ouro do planeta, a China agora quer ditar as regras do jogo — e faz isso justamente em um momento de resistência global mínima.
O salto quádruplo no preço do ouro na última década criou o cenário ideal para a ideia de um “yuan lastreado em ouro”. Investidores do Japão ao Reino Unido estão migrando para o ouro e o Bitcoin, enquanto a prata também dispara, já ultrapassando US$ 50 por onça. Politicamente, é um movimento estratégico: quanto mais ouro, maior a confiança no yuan. Tudo indica que, em uma próxima crise, o Banco Central da China terá como resgatar sua moeda da instabilidade financeira.
Além disso, Pequim não ignora o setor digital: stablecoins lastreadas em yuan podem se tornar o novo “veículo dourado” dos fluxos financeiros globais. Embora permaneça cética em relação às criptomoedas, a China enxerga nelas um golpe estratégico contra o domínio do dólar.
Ainda assim, o caminho para a substituição total do dólar é longo. Cobre e petróleo já são negociados em yuan, mas sem ameaçar de fato a hegemonia da moeda americana. Mesmo assim, as liquidações internacionais estão migrando gradualmente para o yuan, embora nem todos estejam prontos para abandonar seus velhos e confiáveis dólares em favor de um novo “padrão-ouro chinês”.
