A Jefferies destaca que a nova estrutura conjunta de investimentos entre Estados Unidos e Japão não é uma iniciativa pontual, mas o início de um ciclo prolongado de capital voltado a setores considerados estrategicamente sensíveis. O montante é expressivo: US$ 550 bilhões, direcionados às áreas mais caras e escassas do momento — semicondutores, inteligência artificial, energia, construção naval e minerais críticos.
Formalizado em um memorando assinado em outubro, o mecanismo foi criado para acelerar o fluxo de capital rumo a indústrias prioritárias por meio de um modelo de facilitação de crédito. Segundo o analista Aniket Shah, da Jefferies, o programa já abrange cerca de 20 projetos-piloto que somam mais de US$ 400 bilhões, refletindo o crescente interesse do Japão em ampliar investimentos diretos nos EUA.
A estrutura não deixa espaço para ilusões: trata-se de empréstimos, não de subsídios. O financiamento é concedido como crédito, mas deve gerar retornos de aproximadamente 10% mesmo após o reembolso do principal, uma exigência alinhada à legislação japonesa, que permite apenas investimentos economicamente justificáveis e que tragam benefícios diretos às empresas do país.
A coordenação do programa ficará a cargo de comitês especiais envolvendo os Departamentos do Tesouro, Comércio e Estado dos EUA, além do Ministério das Finanças, METI e MOFA do Japão.
Os projetos de semicondutores exigem não apenas capital, mas também especialistas, um recurso já cronicamente escasso. A infraestrutura de IA avança rapidamente, mas seus custos disparam: data centers de última geração valem entre US$ 10 e US$ 20 bilhões e demandam reinvestimentos pesados a cada cinco a sete anos.
A energia continua sendo um gargalo. Embora fabricantes japoneses tenham posição de destaque em turbinas e sistemas de resfriamento, isso não basta para aliviar os entraves estruturais do setor. A Jefferies também alerta para a severa escassez de mão de obra: até 2030, estima-se a necessidade de 750 mil especialistas técnicos, enquanto barreiras regulatórias e desafios de financiamento seguem sem solução à vista.
No fim das contas, o programa é especialmente atrativo para empresas ligadas a semicondutores, infraestrutura de IA e minerais críticos. As companhias capazes de navegar pela burocracia e enfrentar os desafios trabalhistas mais rapidamente que seus concorrentes terão as melhores chances de crescimento.